segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

retrato dum malogro (dedicatória de uma amiga)








"Porque me segues se ando perdido?", disse ele quando apareceu, "porque me quero perder" respondeu ela e seguiu-o.
Foi atrás dele pelas ruas do Bairro, sombrias e frias, como a vida dele. Deixou-o falar e ele disse-lhe (quase) tudo, naquele bar cheio de coisas velhas, onde partilharam memórias de infância em fotografias gastas, do tempo em que as fotografias tinham o valor do momento. E outros momentos doutros tempos.

Aprendeu das palavras dele, dos pensamentos, dos olhos, das mãos, de todo o corpo. Não lhe pareceu culto, viu-o sábio, com tanta força e no entanto ele só se via todo-fraquezas.

E depois desapareceu. Deixou-lhe o caos da vida dele, nas horas dela, andou perdida, primeiro com ele e depois sem ele. Encontrou-se, depois da saudade, guardou-o nela, fascinada por tudo o que ele podia ser, desiludida com tudo o que ele não queria ser.

Percebeu que eram iguais, mas afinal ela estava um passo à frente e ele não a seguiu, ela gritou até deixar de o ver, mas não podia parar.

Ele ficou com o seu caos, os seus tormentos, os seus fantasmas, o seu grande medo da morte!, tantas vezes o ouviu dizê-lo.

Cala-te!tu não tens medo de morrer, tens é medo de viver! Então fica, fica aí, como um paspalho, um bandalho, um caralho. Fica aí na tua iminência de morte, que eu vou à minha vida! (by elsa)

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