domingo, 30 de janeiro de 2011

sorriso sanguíneo











O miocárdio bombeou-me uma mensagem, dizes-me ele, que basta de oscilações de humor. Devido ao mesmo estar ligado com os seus primos músculos faciais foi-me proibido sorrir ou sofreria um enfarte de felicidade. Nesta estratégia de sobrevivência, pactuamos, e o meu rosto petrificou taciturno no quotidiano. Anseio agora o ultimo pulsar, o fim, que me cristalize um sorriso nos lábios para sempre.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

unhas de consolo











Apaga a luz e deita-me…, a baixo de uma ponte em direcção ao rio mais alto. Preso com uma pedra de penas aos pés, flutuo até ao fundo. Ai chego e de azul palato, degusto da imitação das nuvens no lombo de um peixe-martelo que me massacra a cabeça e nela construi uma dobradiça para a tampa do meu caixão. Acordo estranho e apercebo-me que tenho uma luta de galos de unhas pintadas a esboçarem-me um quadro hiper-realista de um ponto apenas na cabeça. Depeno esta alucinação e nas profundezas do coro cabeludo encontro a cicatriz da dobradiça sem porta, espreito e vejo a luz inicial que te pedi para apagares. Enfim deitado.

domingo, 23 de janeiro de 2011

maças











Desejo não mais desejar. O empurrão é forte, o cume magnetiza-me a vontade. - Escala-a, diz-lhe ele, entre ouvidos de pantufas, e depois do tecto beijo o quê? Respondo-lhe eu. - Não quero saber, a imagem do já consumido está tão deliciosa que me deixo rolar ventre dentro. Venho-me de terra. Das nuvens passo ao pó em segundos e o único conforto são os teus ossos.

sábado, 22 de janeiro de 2011

profeta egocentrico











Multiplicam-se células desde que o meu big-bang eclodiu, repleto de egocentrismo sei que tu não existes, apenas serves de referência sinalética para me aperceber o que não sou. Rodeado de espelhos reflicto milhentas mentiras que se multiplicam desde o meu inicio, em que tudo começou. O mundo acaba quando Eu morrer. O pó que ficará serão apenas cacos de reflexos, copias daquilo que tudo fui. Não sejas dramático! afinal ser-se um reflexo de mim é ofuscante o suficiente para cegar de lucidez, que importa se agora cegaste, pelo menos agora vês.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

tu és um bife que fala












O meu esqueleto quer sumir-se entre os poros, conjecturou-se com o suor e planeia uma fuga. Diz estar cansado de me suster o pensamento. Os músculos pensam numa aliança e apenas a carne veio em meu auxílio, segundo a mesma afinal não passo de um bife que fala.