segunda-feira, 16 de abril de 2012

Aurora blurial em Lobão da Beira (memorias de avó ficcionada por um qualquer Bukowski sóbrio)












Certo dia, noite feita ainda em dia, o céu acidificou em tons vermelho inferno acetinado e em ácido toda uma população entrou em alvoroço. Metade da aldeia em sacramento refugiou-se naquele que é o céu pastel pintado de anjos e arcanjos de azul dourado protector, a igreja matriz de Lobão. A mocidade curiosa olhava hipnotizada para o céu, outra entregava-se aos deleites da carne crua como se não houvesse amanha, é que esse amanha poderia não existir tal era o desplante de tal fenómeno. Chatos, os Cientistas, lá vieram apaziguar gentes com explicações científicas. Que explicam tudo menos como foi bom comer aquele naco sem pedir licença, nunca conseguiram evitar todos os animais mortos e os enchidos alambazados pela angústia do consumir dentro do prazo de validade da própria morte que se lhe caia dos céus, mas neste caso a validade eram os seres humanos, as mercadorias assim ficaram ao critério da barriga de cada qual. Comeu-se o porco de tons rosa e o céu voltou aos seus tons azul maricas, as pessoas relaxaram de bandulho cheio e este conto desceu as calças para ir mijar e adormeceu a ressonar que nem um bêbedo.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

elogio à tristeza tristonha














dialéctica didáctica e lúdica do elogio à tristeza tristonha

Estou tão triste que a tristeza não chega para me afogar, lagrimas secaram todas na peregrinação peito acima da tristeza. É o maior karma do triste, esse, de tão triste estar que não se consegue libertar do vício da melancolia. Invejosa tristeza é o verbo e eu triste, ruga feliz que amadurece. Já fui tão feliz na tristeza, sentimento de encolher sobre a dor, até que dela brote um condor de assas partidas para o voo do abismo. Em queda livre todos nós somos aves de rapina. Infeliz aquele que não sabe o que é sofrer, não sofro de amor, de desamparo, de antropocentrismo, sofro apenas porque me faz bem.

sexta-feira, 16 de março de 2012

deixa eu viver minha loucura













Gostava de chorar orvalhos todas as manhas, humidificar a calçada para as quedas matinas de desatenção, abrir a cabeça e os olhos logo pela manha e esguichar bons dias de sangue para os transeuntes. Morrer não é assim tão fácil, passa-se uma vida inteira para se conseguir, e depois, e depois, filhos, livros, marcas, empresas, ideias,,,, coisas ficam cá para nos imortalizar, dizem. Não quero deixar nada, peço a deus da internet que apague toda esta merda, ao ser recordado viverei preso a isto, a esta coisa que me faz escrever dias sem fim, e afinal eu só queria um afago neste pelo e fechar o circulo.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

palavrões dito em voz alta













Água


salgada mágoa dos olhos
jorra entrecruzados ranger de dentes sorridentes de palito e palato do ultimo prato
servido nu sobre a cama onde comes, dormes e choras por mais
menos por favor, é favor quebrar as pálpebras que querem dormir em alerta
aperta de fora, e jaz um frio cá dentro que endurece amadurece e apodrece
o viril Verbo liquido inicial, jorra e chora invertidos amanhas que já foram,
e
pendurado sobre os dentes, sou o pêndulo do tempo que te olha nos olhos.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Perversidade é mãe


















Perverti e profanei sim, depois de nada mais existir para adulterar, descansei ao terceiro dia conforme as escrituras e desci dos céus. De homo-erectus criei sapiência na preguiça de me manter tão firme, tão erecto, comecei a conceber assim fantasias que até hoje alimentam meus antepassados do amanha. A ninfa que dorme quente sobre a pedra fria, transporta até hoje esse bocejo de vida preguiçosa, ociosa, hedonista na sabedoria da concepção. Nossa Srª da Concepção é mãe Virgem que a humanidade pariu do pavor, … não sou filho de uma foda, apenas de um amor maior. Mas filho a tua mãe fodeu com todo o amor do mundo, e da preguiça nasceste tu, com tanta coisa em que laborar tinha que me entregar a esse deleite, leite pai? Sim Pai Ócio, sim, és o motor da criatividade, da pincelada inicial à imagem pré-concebida e consumida és o motor que me faz erectus-homo do progresso.