quarta-feira, 25 de setembro de 2013

demasiados pénis neste jarro
















Preto no branco, nada de loucuras, tudo concreto, um voto certeiro e menos impostos e mais centeio.

                                                                                   ou

Cinzeiro cheio, liquidez ambulante, abstenção idosa pois sou poeta e minto aquilo que em verdade (ab)sinto.
Sempre achei que envelhecer seria quando tivesse a certeza de algo, agora sei que é logo depois de contrair o primeiro empréstimo, os juros de mora vão te perseguir a cara com rugas. Contrai em tempos um Amor com as swaps certezas de borregos risonhos, vieram os senhores de fraque convidar-me para uma chanfana ainda ontem. Fechei-lhes a porta na cara, pois já tenho meo obrigado, estou servido, já tenho tudo não percebo o que estas pessoas fazem na minha porta todos os dias, devem ser loucos, e de loucos todos nós temos um pouco, é isso e leite no frigorífico, não vá aparecer aquela menina da meo novamente, que eu bem a vi a ir-se embora na sua bicicleta doirada, tal e qual como a bala que lhe guardo.


segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Torre de Babel




















Construam cidades o mais alto possível, - é uma ordem - para que lá do alto consiga espreitar as saias a todas as estrelas, ouvir as conspirações dos Deuses, tomar-lhes o Poder e as filhas e se possível subir mais os impostos. Se todos comunicassem com a minha linguagem há muito que lhes tínhamos, sorrateiramente, como quem esculpe um monstro na cave, conquistado o conhecimento supremo. É pois, quando subimos lá bem no alto, e nos colocamos em bicos de pés para bisbilhotar conhecimento alheio que nos apercebemos que os pés que beijávamos e adorávamos eram os nossos, e afinal aquele rabo não é sexy, é o nosso rabo e está borrado. Desce, desce então até ao rés-do-chão, pede uma aguarrás para lavar toda essa merda acumulada de conhecimento ao longo destes anos, de certezas absolutas, ideias e ideais inquebráveis que te deixaram dormir estas noites todas e desperta a sabedoria inquietante da incerteza singela. Dá-lhe a mão pois agora andas perdido de sabedoria, e se possível acaricia-lhe os seios. Dorme finalmente bem.

segunda-feira, 10 de junho de 2013

manifesto romântico















10 Mandamentos românticos:
1º somos contra a caridade, o altruísmo bacoco, defendemos o amor na sua base mais insustentável e violenta, o desejo de não desejar, o desejo de voltar a desejar e o desejo que o verbo desejar nunca desapareça do léxico romântico.
2º morrer de amor se assim for o traço
3º jamais erguer a cabeça a cima dos ombros altivos numa postura de conforto e/ou confronto com a dor, ela ao surgir deve ser imperativamente rainha 
4º reconhecer e distinguir a fonte da dor, da pura frustração egocêntrica, apenas a primeira poderá dar azo ao 2º mandamento
5º mingar sobre a dor até que seu amparo nos ampare o sereno sono
6º sair à rua passear a dor, até que se desfaça em favos de mel, doces e podres pedaços temporais 
7º todos os dias ao levantar escolher qual o favo a meter à boca, engolir e silenciar opinadores externos, esses saqueadores da vontade mais cruel e sincera do peito, apenas pegar naquele que o peito ditar e sair degustando.
8º lamentar todos os amores desta e das outras mil vidas não vividas, desperdiçadas no medo, na hipocrisia da falsidade gratuita. Somos a favor do hedonismo partilhado, mas ferozmente contra os jogos de gratuitidade medíocre, de silêncios interpretativos e de fugas e carapaças de defesa individual, não pervertam um romântico se é para o desprezar em cómodos silêncios de cinismo, o amor quer-se rijo, concreto como um pénis/carimbo erecto antes de o credibilizar. 
9º todos os românticos devem possuir dois grandes amores numa vida, aquele que já viveram e aquele que nunca viverão, tendo plena consciência que nunca lhes restará nenhum deles
10º todo o verdadeiro romântico acaba por ter em si uma dose de misticismo onde se debruça sobre oráculos de sentimentos sinestésicos. A congruência do amor existe tão negra como o cosmos, pintalgado por certezas estrelas, cacos primitivos da primeira Grande-Orgia.